sexta-feira, dezembro 03, 2004

Também há boas notícias

Admito que gosto do "Jornal de Notícias" (JN). É um jornal honesto, na medida em que não tenta parecer o que não é. E tem a notável capacidade de descobrir pequenas notícias onde outros já esgravataram sem sucesso. Para mim, que me orgulho de ter o país mais ou menos peneirado, com os principais focos de notícias ambientais já recenseados, a leitura do JN é, confesso, frequentemente frustrante, porque o jornal continua a descobrir matérias que, por qualquer motivo, tinham escapado ao meu crivo.
Vem este tempo de antena a propósito de uma reportagem publicada na segunda-feira passada. O artigo dava conta de uma reconversão fabril na antiga Siderurgia Nacional, onde uma nova empresa (a Ecometais) se lançou, desde Outubro, na tarefa de reciclagem de veículos automóveis em fim de vida.
O princípio é simples e resolve um dos problemas ambientais mais preocupantes das sociedades industrializadas: o que fazer com os automóveis que já não podem circular? A Ecometais, em 20 mil metros quadrados, transforma veículos em fim de vida em aço reutilizável, recolhendo também alumínio, cobre e zinco, que serão depois exportados para unidades de valorização. Graças a 16 martelos de 130 quilos, os carros são triturados e rapidamente transformados em partículas de ferro de 200 milímetros. Segue-se um processo de triagem, que visa separar fragmentos metais não ferrosos e concentrar as componentes metálicas. Num só ano, a Ecometais promete produzir 180 mil toneladas – um valor significativo, que se traduz numa média de transformação de cem carros por hora.
Para obter a sua "matéria-prima", a empresa recebe veículos abandonados ou destruídos parcialmente, mas também pode comprá-los a empresas ou particulares. E como não poderia deixar de ser, procede também à recolha de outros resíduos associados – como os pneus, as baterias ou os combustíveis –, visando reconvertê-los e reutilizá-los.
Passaram apenas dois meses desde o início da produção, pelo que é cedo para fazer um balanço a esta actividade. Sabe-se para já que existe ainda um problema de difícil resolução: os materiais não aproveitáveis dos automóveis, os chamados resíduos leves de fragmentação, têm de ser depositados em aterros, solução que só pode ser considerada provisória, porque ainda não há melhor destino. Lamentavelmente, segundo o responsável pela produção da Ecometais, 60% das despesas de operação são consumidos apenas neste processo de depósito em aterro! Uma percentagem elevadíssima, que porventura poderá colocar em causa toda a operação a médio prazo e que deverá ser motivo de reflexão.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas não será que reciclar automóveis é muito mais fácil, e muito mais rentável, do que reciclar computadores, gira-discos, ou máquinas fotográficas?

São estes últimos resíduos, e não os automóveis, a que na Alemanha se chama "Sondermuell" (= lixo especial). E esse Sondermuell é que é mais problemático.

Gonçalo Pereira disse...

Não vejo qualquer antítese entre um e outro processo, nem percebo porque serão incompatíveis. São áreas distintas, que deverão merecer idêntica atenção. Ainda bem que os veículos em fim de vida já estão ser considerados, embora num modelo com algumas falhas. Voltarei a falar sobre reciclagem de materiais. Obrigado pelo feed-back.