domingo, maio 29, 2005

O Rei Vai Nu

«De cada vez que nomeio alguém, crio um ingrato e 100 ciumentos»

A propósito da nomeação do ex-autarca e ex-ministro Fernando Gomes para a administração da Galp Energia, recordo esta velha citação atribuída a Luís XIV. Mas, para além da gargalhada que a grotesca nomeação despertou nos portugueses mais ou menos racionais (vão escasseando, garanto, vão escasseando), impõe-se uma reflexão sarcástica sobre estes poisos temporários que as figuras partidárias caídas em relativa desgraça parecem encontrar em períodos de exílio.
Curiosamente, o primeiro bloco de críticas nasce sempre do principal partido da oposição. Irónico, no mínimo, que o PSD ouse beliscar a nomeação, se não contestou a presidência de Ferreira do Amaral ou as candidaturas de Guido Albuquerque ou Nuno Moreira da Cruz. Neste caso, não é o descrédito da instituição que aflige o PSD. É o despeito.
Do lado do PS, não ficava mal se alguma voz iluminada tomasse o microfone para dizer aquilo que todos nós vemos: o rei vai nu. Não há explicação possível para esta nomeação, nem há nada no currículo político ou empresarial (por escasso que este último seja) de Fernando Gomes que o torne candidato natural ao caso. Não se lhe conhecem tomadas de posição sobre a energia em Portugal; não se lhe ouviram apreciações sobre o mercado petrolífero em Portugal; ninguém sabe sequer se Fernando Gomes sabe distinguir a gasolina do diesel. Quanto muito, a afinidade que tinha com o sector limitava-se à ocasião semanal em que parava o carro numa gasolineira e abastecia o veículo.
Cito, com a devida vénia, do Minha Rica Casinha uma passagem exemplar:
«O simples só ambicionava, e só isso ousou balbuciar, um lugarzinho como economista.
Fardadinho de azul, queria ferrar às oito e (disso não abdicava) lá pelo meio dia e meia hora fazia pausa, e da lanchonete tirava uma de paio e a sagres.
Depois, ao final da tarde, a sirene amiga, o desferrar e o voltar aos seus com o sabor do dever cumprido. Era só o que esta abnegada alma queria. Mas não: fizeram-no administrador. E agora, o pobre, até está desnorteado.»

1 comentário:

Anónimo disse...

LIIINDO!!!!

pedro soares