quinta-feira, março 30, 2006

Boa Nova

O último relatório trimestral da Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens (APCT) traz uma novidade pouco badalada, mas muito interessante para a credibilização do sector. Pela primeira vez, a APCT discrimina, na análise da circulação paga de cada publicação inscrita, as “vendas em bloco”. Pela primeira vez, portanto, torna-se visível a olho nu a diferença entre um título que vende 20 mil exemplares em banca e outro que vende cinco mil em banca e escoa os restantes em acordos de circulação – ou seja, vende alguns milhares de exemplares a empresas que, utilizando listas de endereços de alguns dos seus clientes, oferece a publicação em causa durante determinado período de tempo.
Dirá o leitor que a alteração é pouco significativa. Não é. As agências de meios decidem o destino do seu investimento publicitário de acordo com os dados de circulação paga e com os dados de audiência fornecidos pelo Bareme. Até aqui, estas agências não dispunham de toda a informação disponível sobre a vitalidade de um título. Convenhamos que não será a mesma coisa comprar espaço publicitário numa revista/jornal que venda efectivamente 20 mil exemplares ou comprar numa publicação rival que, embora circule os mesmos 20 mil exemplares, só vende cinco mil. Porquê? Porque temos de assumir que uma boa percentagem das pessoas que receberão em casa a oferta da revista X ou Y nem a abrirão. Ou, na melhor das hipóteses, não lhe dedicarão a mesma atenção do que o fariam se a tivessem comprado voluntariamente. No mesmo exemplo, há portanto vinte mil exemplares vendidos (porque os acordos de circulação implicam a venda da publicação à tal empresa, embora a preço unitário muitas vezes baixíssimo), mas esse número é empolado.
Para além de constituirem interessantes ferramentes de gestão do investimento publicitário (a receita maioritária para quase todas as publicações), os dados das “vendas em bloco” permitem também uma análise mais rigorosa ao mercado. Poupar-vos-ei os detalhes sobre publicações específicas, uma vez que o relatório da APCT está disponível apenas através de assinatura, mas chega a ser assustador como algumas publicações sobrevivem com circulações reais (bem) abaixo dos dez mil exemplares.
São revistas e jornais artificiais. Morfologicamente estão mortas, mas continuam ligadas à máquina que respira por elas. Até ao dia em que alguém desliga a ficha.

terça-feira, março 07, 2006

Só Mais Uns Dias

Se não fosse português, julgo que seria alemão. Pelo menos, é disso que frequentemente me acusam, tamanha é a minha obsessão pelo cumprimento de prazos e horários.
Quando frequentei a licenciatura, fazia regularmente noitadas para cumprir os prazos de entrega de trabalhos. E era costume chegar à faculdade, de olhos avermelhados pelo esforço, e cruzar-me com colegas descontraídos, que também tinham lá ido, mas para pedir adiamento da sentença.
Terminei a licenciatura acreditando no mito de que, noutros patamares académicos, a rebaldaria horária deveria ser regulada. Que nos mestrados a coisa fiaria mais fina.
Cheguei ao mestrado e deparei sensivelmente com a mesma situação: prazos falhados, permissividade de alguns docentes, entregas de trabalhos adiadas para as calendas gregas.
Depositei esperança na crença de que, no doutoramento, patamar último da aprendizagem, a fasquia seria finalmente colocada com firmeza, intransponível ao abuso.
Esta semana, começou o 2.º semestre do programa de doutoramento que frequento. Esfalfei-me a valer para entregar os textos pedidos dentro do apertado intervalo temporal exigido.
Chegou o dia do primeiro seminário de segundo semestre e escutei, abismado:
Bom, recebemos tão poucos trabalhos, que vamos adiar o prazo de entrega para os restantes candidatos até Setembro (!?!).
E agora, senhores, vou acreditar em quê?