sábado, maio 27, 2017

Está quase #1

O senhor da Secretaria aproxima-se da minha mesa. Traz na mão duas cartas, como costuma acontecer todos os dias, mas mostra-se mais circunspecto. Transporta-as como se carregasse uma granada sem cavilha.
– Ahum…  – pigarreia. Tem aqui uma carta.
Interrogo-o com o olhar. O desconforto é óbvio, a voz sugere que o remetente do envelope é a Autoridade Tributária ou o Diabo em pessoa. Lá reduz o volume da voz e diz, quase num sussurro:
– São do FBI. Para si. Do Departamento de Justiça.
E fica ali, o imbecil, a aguardar que eu esclareça.
Gozo o prato. Mantenho o olhar sério. Viro e reviro os envelopes, observo-os à transparência. Ainda me passa pela cabeça abri-los com uma pinça, como se receasse uma explosão iminente, mas lá agradeço e o senhor da Secretaria retrocede, danado, sem conhecer o conteúdo.
No interior, não vêm as prometidas respostas que eu esperava do FBI Vault, o arquivo histórico da instituição. Não têm qualquer processo em nome de Manuel Zorra, um português muito especial para a história da imprensa portuguesa.
O resto... Terão paciência, mas vão ler daqui a uns dias, quando o livro estiver nas livrarias – se encontrar lá o Senhor da Secretaria, terei o cuidado de levar o dedo aos lábios, recomendando o silêncio cúmplice e necessário.

Afinal, as cartas vinham do FBI.

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